Os sapatinhos das freiras

Se tem uma coisa que acho bonito nas freiras são seus sapatinhos. Sempre pretinhos e tão perfeitamente encaixados nos seus pezinhos. Digo “inhos” porque as freiras que conheci e conheço são na maioria pequenas.

Tinha me esquecido como gostava de observar seus sapatos quando eu era criança, mas outro dia em evento da escola das crianças percebi que as freiras de hoje também usam sapatinhos que me agradam.  São em geral sapatinhos de boneca perfeitamente engraxados e muitos confortáveis. Tipo os que adoro comprar.

Um dia desses tomo coragem e pergunto onde as freirinhas compram seus lindos sapatinhos.

Por um xampu simples

Está cada vez mais difícil comprar xampu e farofa no supermercado. São nestas gôndolas que perco mais tempo. Não existe mais um simples xampu de lavar o cabelo. Existe aquele para frizz, que não é meu caso. Existe aqueles cabelos desgastados pela tintura, que não é o meu caso. Existe aquele para cabelos super oleosos, outro para cabelos secos, que também não servem para mim. Ah sim, tem o mega blaster reconstrutor, mas não quero reconstruir nada. Há mil opções para queda de cabelo também, para tirar volume, para tirar volume, para alisar, para encrespar.  Depois de dar aquela pequena vontade de chorar de raiva, decidi então comprar um xampu de criança. Esse lava o cabelo sem nenhum efeito colateral.

Observei o mesmo fenômeno entre as farofas. Não há mais farofa simples. Tem com batata palha (?), picante, farinha de milho, com pedacinhos de bacon, super grossa, superfina. E por aí vaí. Pelo menos a farofa você pode fazer em casa, diferente do maldito xampu.

Nós pegamos a baqueta do Taylor

Vocês não devem saber quem é Taylor. Eu também não saberia, se não tivesse uma filha de 13 anos louca pelo Paramore. Taylor York é guitarrista e toca também bateria durante o show. EIs que fui “levá-la” no show tão esperado. Digo entre aspas porque é claro que não consegui ficar lá no fundo com cara da velha cuidando dos filhos de longe, como os outros pais. Dancei, pulei, cantei, como qualquer outro fã, afinal sei algumas letras de tanto ouvir em casa.

No final, a minha adolescente exausta de tanto gritar e chorar pediu para ir embora. E eu falei para ficarmos ali na frente do palco enquanto desmontavam as coisas, porque na minha época rolava de seguranças jogarem palhetas, set list, baquetas e coisas que nós, fãs, adoramos. E não deu outra. De cara, o segurança deu uns set lists. Tudo bem que na confusão, as fãs rasgaram um pouco, mas o que importa?

De repente, o segurança jogou a baqueta (aquela madeirinha que serve para tocar bateria) do Taylor e eu em um impulso pulei e ela bateu na minha mão e caiu. Ah, que raiva. Não tive dúvida e me joguei no chão com as outras meninas (que tinham entre 13 e 18 anos) em busca da baqueta perdida. Rolou puxão de cabelo, beliscão e gritos. Tudo confuso porque o chão estava coberto de lixo . Ninguém enxergava nada. Enquanto isso, eu, concentrada na briga, ouvia de longe a minha adolescente me chamando. Quando resolvi olhar, ela me mostrou a baqueta escondida embaixo da roupa. Ah, a fã esperta aproveitou que a mãe estava ali segurando exército de de inimigas e pegou o troféu e escondeu para que as concorrentes não pulassem em cima dela . Passada a batalha, descabeladas e com a maquiagem borrada, pulamos e choramos juntas abraçadas à baqueta do Taylor. E que troféu! A baqueta do ídolo para um fã é uma coisa muito especial. Quem não é fã, não entende, mas quem é  ou já foi fã sabe do que estou falando.

Me lembrei também das inúmeras  vezes que fiquei no frente de hotel esperando os ídolos, das artimanhas para entrar em camarins, entrevistas coletivas, tirar fotos, pegar autógrafos. Se contar o Menudo, lá se vão 30 anos no papel de fã. Mais tempo que tenho de jornalismo.

Foi a primeira das aventuras de fã da minha adolescente. E descobri que não foi e nem será a minha última aventura de fã. Em novembro, o Red Hot Chilli Peppers que me aguarde.

Sim, eu me rendo à máquina que lava louças

Primeiro, as desculpas por não escrever aqui por um longo tempo.  Realmente, a rotina da volta ao trabalho me atrapalhou, mas pretendo escrever ao menos uma vez por semana ou que sabe duas por aqui.

Hoje, falarei sobre como nós adultescentes precisamos parar de dizer “nunca”, seja para coisas banais ou  realmente importantes.  Tenho refletido muito sobre isso na volta à rotina do trabalho, com três filhos, sendo um deles um bebezinho.

Por exemplo, sempre desdenhei quem tem máquina de lavar louça. Sempre disse que era uma coisa inútil e tals. Ah, quanta bobagem. Nem sei porque perdi tanto tempo sem ela, nossa Rosie, Tão incrível ir colocando as louças sujas lá dentro ao longo dia, sem que se acumulem na pia,  e de noite num passe de mágica, energia e água, os pratos, copos e panelas saiam limpos cheirosos e secos lá de dentro!!!!  Ao fazer esse comentário também estou quebrando paradigmas pessoas, afinal sempre achei ridículas e machistas as propagandas com mulheres felizes abraçadas com uma caixa de sabão e em pó ou uma máquina de lavar louça. Sim, eu estou feliz, sim eu estou muito feliz com a máquina de lavar louça. E não sou só eu que estou feliz, meu companheiro também, porque nos revezamos na louça  e essa tarefa a menos nos dá uma vantagem e tanto na correria do dia-a-dia.

Nunca gostei de carro de sedan. Isso desde o Fiat Oggi, Sei lá porque enfiei na cabeça que sedan é carro de velho. Na hora de escolher um segundo carro para a família, no entanto, o preço do sedan popular era mais acessível e o tamanho do carro também compensava. Mandamos ver em um sedan, pequeno, mas um sedan. Oras, que diferença faz? O carro anda bem  e começo achar ele até bonitinho.

Depois que as crianças vieram, nunca mais viajei sozinha nem que fosse rapidinho para curtir um show. A culpa sempre me tomava. Trabalho tanto e vou ainda viajar… Sim, eu mereço ver a banda que gosto em São Paulo, nem que seja em um bate e volta. Mereço gritar, cantar e pular durante uma hora e meia até ficar rouca.

De onde tiramos esses dogmas que nos prendem, nos aprisionam? De ondem essas “verdades” que nos tornam tão carrancudos a novas experiências?  São dos pré-julgamentos que fazemos da sociedade? Da nossa criação?

Não digo que tenho ainda centenas de manias e dogmas furados. Não consigo usar dourado, nem me livrei da mania de sempre usar algo preto na roupa. É uma vício que se perde aos poucos, mas o importante é começar.

Enquanto escrevo esse post, o meu companheiro joga videogame online contra um tal de “detendo do rap” e solta um palavrão a cada minuto e por um segundo penso: “que besteira jogar isso para se irritar. Isso é uma coisa que nunca vai me peg….”. Ops, nunca é meio forte. Quem sabe amanhã não enfrento o “detendo no rap” em uma partidinha de futebol online?

Quando é hora de abandonar o maior sonho de todos

Muitas coisas na vida doem o diabo. Não sou mãe e talvez não conheça a maior dor de todas. Nessa âmbito, só conheço a dor que senti quando minha sobrinha foi quase fatalmente sugada pela bomba da piscina. Doeu até o lado mais escondido do minha alma. Ver pai e mãe chorando também é da categoria “dor sobre-humana”, assim como ver um irmão  sendo injustamente humilhado.

Minha maior dor de todas é ter que abandonar um sonho. Mas não é abandonar aquele sonho de ser bailarina porque seus pais não tinham condição de pagar a escola ou porque te acharam gorducha demais para fazer um pliê.

Um dia entrei no lugar com o qual sonhei trabalhar desde criança. Descobri que o produto final – pelo qual eu tinha um amor imenso – era feito por quem não fazia a mínima questão de colocar amor no dia a dia de trabalho. Parecia um campo de batalha no qual o objetivo de cada um era esmagar o entusiasmo do outro a marretadas travestidas de humilhações.  Terminei com esse sonho.  Eu não respirava dele. Apenas colocava imenso respeito pelo lugar e pelas pessoas que trabalhavam lá. Mas elas me ajudaram a tomar a decisão de desacreditar nelas e no lugar.

Quando falo em abandonar o maior sonho de todos mesmo, estou falando de desistir de ser o que você planejou ser. É perceber que ele vai morrer porque você foi incompetente ao cultivar o sonho sozinha ou simplesmente não achou quem pudesse ensinar a cultivá-lo.  Abandonar o maior sonho de todos  é abrir mão daquilo para o qual você acorda todos os dias. E que ninguém venha dizer que uma porta fecha e outra abre. Isso é verdade, mas não minimiza a dor.

A um passo de abandonar meu sonho…Vou dar um prazo: quando todos as guloseimas de festa junina tiverem sido retiradas das prateleiras do mercado, terei decidido.

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A cultura do choro

A pessoa começa o dia ouvindo dez vezes O Segundo Sol e 20 vezes Is All I Need, do Radiohead, passa à tarde ouvindo as brincadeiras da família pelo Skype com direito à risadinha do bebê e tudo. E para completar: à noite engata Laços de Ternura, no Telecine Cult. Depois não quer ficar com a cara inchada de tanto chorar. Sempre achei que eu tinha algo sadomasoquista.

Não dá mais para ser livre!

Minhas raízes são minha família. Não vivemos um sem o outro. Se um irmão se mete em apuros, lá vamos os quatro juntos resolver. Ligo para minha irmã umas 3 vezes (temos net phone) por dia só para fazer algum comentário que geralmente não é relevante. Ligo para minha mãe para falar que estou vendo alguma coisa legal na rua ou contar alguma novidade ou fofoca leve. Minhas raízes preservam minha sanidade.

Também tenho asas. A mesma família que descrevi acima ficou cinco anos sem me ver pessoalmente porque caí no mundo. Porque essa foi a forma de me encontrar.

E me encontrei. Gosto de viver com pouco. Gosto de comprar sapatos que sejam confortáveis porque nunca sei o que uma dia me trará: uma longa caminhada ou uma nova viagem. Gosto do meu ultrabook para trabalhar e usar o internet banking e do meu telefone com uma boa câmera.  Não gosto de me vincular a planos de telefonia, nem de TV e nem de juntar tralhas que ficarão amontoadas. Gosto de estar sempre pronta para partir, se for preciso.

Mas o mundo não deixa mais. Eu queria comprar um smartphone top de linha. Porque quero a câmera e inúmeros outros aplicativos que me serão úteis para a vida que escolhi. Mas ele custa caro. Então embarquei numa jornada pelas operadoras porque vincular o smartphone a um plano o torna mais barato.

A cada explanação o que eu via eram correntes e cadeados me trancafiando a faturas e leis sem fim. Tudo o que eu queria era um smartphone top de linha desbloqueado para ser livre. Para hoje colocar meu chip locale, e não ser impedida de amanhã, se quiser , colocar um chip de Pindamonhangaba. E depois de amanhã um chip neozelandês, ou quem sabe um chip do sudoeste francês. Cada dia um chip diferente. E movida ao wi-fi dos lugares por onde eu passar.

Para mim isso é liberdade.

Mas hoje em dia está difícil. Porque mesmo se eu escolher não me vincular a um plano pós-pago e comprr o smartphone top de linha para inserir meu chip pré-pago, o que acontece¿ O chip desse específico smartphone top de linha é mini, de um tamanho diferenciado.

O que faço¿

Dizem na internet que basta cortá-lo com uma tesoura e inserí-lo no aparelho.

Mas aí eu perco a liberdade de, se amanhã bem entender, voltar a ter um telefoninho simples que só aceita chips de tamanho convencional.

Não dá mais para ser livre mesmo. Saco!

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O drama do fim da licença-maternidade

Depois de seis meses de licença-maternidade, volto amanhã ao trabalho. Muito adolescente o que estou sentindo agora. Há uns 10 dias choro quando lembro que vou ficar oito horas longe dos meus três filhos, ou seja, choro umas 12 ou 14 vezes por dia. E como passei por isso antes, sei que vai durar ainda uns 20 dias ou até um mês.

Não, isso não significa que não gosto do meu trabalho. Pelo contrário, adoro o que faço e neste seis meses senti saudade da correria e de longe fiz um trabalho ou outro.. Mas a vontade de ficar grudada 24 horas com meu bebê e minhas duas filhas é muito louca, quase insana.

E seu pudesse parar de trabalhar?  Será que eu pararia? Não costumo flexionar o verbo no futuro do pretérito, me faz mal. Se não posso, não posso e ponto, não poderia.

Sim, isso beira a depressão. Não, não se trata de culpa como tantas especialistas gostam de falar. Não tenho culpa por ter uma carreira, por gostar trabalhar e batalhar por dinheiro para dar uma vida melhor aos meus filhos. O que sinto e sentirei dia a após dia é mais simples que culpa, mas acho que mais dolorido que isso. É “só” saudade.

Glamour aos 15 anos

Há muitos anos li um texto do Léo Jaime na revista Capricho que dizia algo mais ou menos assim: enquanto meninos de 15 anos nos causam horror com sua partes desconjuntadas, voz desmodulada e muitas espinhas, garotas de 15 nos causam a sensação contrária, sendo a imagem do glamour, a personificação da beleza de uma flor e bla bla bla bla grbublraharg!

Hummm… Outro dia fui buscar meus sobrinhos no colégio e a turma dos 15 anos pululava ali na frente do portão da escola fazendo tudo aquilo que a gente faz nessa idade entre risinhos, gritinhos emocionados, conversas de menina, paquera e aquela coisa toda. Tinha muita espinha envolvida com base translúcida na cara delas. Restolhos de sombra azul e verde cintilante também apareciam no canto de alguns olhos. E a maioria estava com olheiras de lápis de olho escorrido ou grumos de rímel mal passado nos cílios. Aí eu ri meio que solidária com essa falta de jeito que as meninas ainda têm no uso dessas coisas de mulher.

Ri também porque lembrei de quando meu irmão ria da minha cara quando eu colocava brincões e passava lápis de olho às 6h30 da manhã para ir à escola. Aquilo com moletom, calça adidas e tênis malhado deveria mesmo ser uma pintura complicada de toda uma fase da vida da mulher.

Mas o que me incomodou mesmo foi quando comentei isso numa roda de amigas e cunhadas (ah…essas minhas cunhadas). Meu tom de deboche foi assassinado por avassaladores olhares de desaprovação. Chequei se meu lápis tinha escorrido e se o rímel acumulava grumos nos cílios.  Not. “Onde eu estava vendo o problema?” – elas queriam saber.

Sei lá…(vazio mental). Não tem problema nenhum.  Mas, para mim, o Léo Jaime estava errado. Outro dia fui na apresentação de dança de uma das sobrinhas. O saguão do teatro estava lotado de avós com barriga sarada, peitos de cimento e calças apertadas;  mães com cara de filhas de 15 anos (nesse caso, com a maquiagem não borrada); e filhas de 15 anos com caras de mulheres experientes. Mas não tem problema nenhum. Foi só um “reparo” da minha parte. Sem neuras. Desculpa aí.

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Segunda infância

Sei que é chavão escrever sobre ser mãe às vésperas do Dia das Mães. Mas assim como a adolescência, a adultescência é repleta de sentimentos bens comuns, mas não menos dramáticos.

Não, nunca sonhei em ser mãe, nem ao menos brinquei de ser mãe de boneca. Achava chato, achava monótono. Olhava minha mãe sempre tão preocupada, sempre tão ocupada com tudo e cheia de “nãos” que não queria nada disso para mim. Na minha cabecinha, família só fazia sofrer, chorar. Eu queria ser solta no mundo assim como uma folha que voa para onde o vento vai.

Eu não estava tão errada. A vida é mesmo como o vento. As coisas vão acontecendo e  o vento vai soprando a gente para lá, para cá. Depois de tantas perdas, chegou a vontade de ter um filho, que me fez tão bem, mas tanto bem, que tive o segundo, que me fez tão melhor, tão melhor, que tive o terceiro.

São eles que me dão de presente todos os dias os meus melhores sorrisos e aquele frio na barriga de montanha-russa. São eles que me fizeram e me fazem uma profissional melhor a cada dia, porque se eles estiverem bem nada é impossível e com eles aprendi a multiplicar o tempo, as soluções, os sonhos.

É por eles que luto, que corro, que brigo, que sinto, que choro, que aprendo, renasço e morro todos os dias.

Em um dos mil programas de TV sobre mães, a apresentadora perguntava às convidadas sobre o que perderam com a maternidade. Eu não entendi a pergunta. Não perdi nada. Só ganhei, aprendi, principalmente a dar valor ao que realmente tem valor.

Minha mãe diz que eu quis tantos filhos porque não brinquei de boneca direito quando era criança. Eu acho que talvez ela tenha um pouco de razão. Não pude ter uma infância plena, tive que crescer cedo: ouvir, ver, sentir, sofrer o que não devia.

Minha infância, minha felicidade, minha adolescência, minha adultescência são agora, com meus três filhos,

 

Minha porção loser

Nós éramos uns cinco amigos de uns 16 anos sem ter o que fazer numa noite de sábado. Fomos buscar uma pizza e, aguardando no balcão, bebemos as batidinhas-cortesia.. Lá pelas tantas eu vivia o primeiro pileque de uma vida. Agarrada à panturrilha de uma das amigas, eu confessava: era uma loser. E por quê? Não tinha tênis reebok, nem calça M.Officer; meu cabelo era encaracolado e não permitia topete (quem mora no Sul sabe o que significou poder ter cabelo liso com topete nos anos 80); meu irmão bacana não me deixava entrar na turma dele.

No meu aniversário daquele ano mesmo, o grupinho me presenteou com uma camiseta da Fiorucci. Ironia ou passaporte para entrar no seleto mundo dos “não-losers”, preferi acreditar que aquilo foi uma manobra carinhosa para dizer que me amavam sendo eu quem eu era mesmo. Jamais usei a camiseta dos anjinhos junto com a linda jaqueta jeans da Zoomp (comprada em liquidação) para não arriscar parece “grifada”, sabe como é? Nem que eu tentasse, aquele dourado mundo de roupa de marca e festas de 15 anos nas colunas sociais não era mesmo o meu. Eu era loser.

A gíria loser – que ao que tudo indica foi cunhada lá pelos anos 50 por Charlie Schultz, o criador das tirinhas de Charlie Brown – significa perdedor. É aquele infeliz digno de pena, sem prestígio, sem sorte… Pela lógica torta dos adolescentes ou de uma sociedade vazia que valoriza a imagem e esquece o que há por dentro, loser é o excluído, é o alvo das chacotas. “Because you’re a loser, Charlie Brown”, diz a gozadora Lucy ao amigo nas tirinhas. “Because you´re a loser, Juliette”, ecoava na minha mente há até pouco tempo.

Mas esse mesmo tempo passa. E a vida move as peças. Por vezes ela transforma losers em gente-bem sucedida ou coloca aqueles célebres bacanas do colégio em uma posição mais pé no chão. Certo? Não é bem assim. Recentemente fui ao encontro de 1000 anos de formatura da faculdade e constatei: as meninas mais bonitas e populares da turma estavam lá, ainda belas emanando uma espécie de aura de algodão doce que atraíam as ditas losers feito mosca no mel. Ser loser, então, seria uma questão de atitude, não é? É sobre onde você se coloca nesse palco. É sobre até onde você acha importante o que os outros acham importante.

A série americana de TV Glee exalta um grupo de coral de escola formado só por adolescentes losers. Pelos corredores do colégio McKinley, eles são alvo de piadas e não têm prestígio algum. O que se esperararia no final? Que eles conseguissem superar suas diferenças, crescessem, se transformam em celebridades e ganhassem prêmios, certo? Fail! Eles se ferram sempre. Mas se divertem e fazem o que gostam: sobem no palco, mudam de dimensão, cantam, dança e acumulam seus minutos de glória. Não, não são losers.

Recentemente, trabalhando com um grupo de estagiários na faixa dos 17 aos 25 constatei que, para eles, loser é o cara de mais de 30 que ainda não conquistou a vaga de diretor (sem considerar o que é preciso abdicar para manter essa vaga). Vamos esperar mais alguns anos e alguns tropeços. Para um namoradinho publicitário de 24 anos que mantive por um tempinho, loser era o publicitário que não ia exercer a profissão em São Paulo. Tirando meus amigos publicitários paulistanos ganhadores de prêmios em Cannes, lembrei daquele cara que se mantém na paulicéia trabalhando numa agência por alguns trocados e não tem tempo de viver tudo o que vida oferece por lá (além do congestionamento e do metrô lotado).

Para minha cunhada, loser é o cara que veio me buscar em casa outro dia num Santana. Ele veio se despedir, tinha vendido tudo (inclusive o carro do ano) e foi passar anos ensinando Português aos professores de um país lusófono que está prestes a ser reconstruído. Para uma amiga recém-separada, loser é o ex-marido fiel que, apesar ocupar um alto cargo numa multinacional de dia e dar aulas à noite, caiu no “absurdo” de pedir dinheiro emprestado aos pais para terminar de colocar de pé a maravilhosa casa que eles construíram para a bela família em um magnífico e seguro condomínio de luxo. Prefiro acreditar no mundo do meu jeito, onde os losers são aqueles estagiários, o namoradinho, a cunhada e a amiga recém-separada, que, em comum, têm os valores distorcidos.
Acho que um planozinho para não passar a velhice sem amparo financeiro já é o suficiente para nos afastar da neura de estar na categoria loser. O resto é resto.

Se você faz o que gosta, dá significado ao seu trabalho, se tem amigas (excluindo as falsas) que a amam como você é, e se tem algum resquício de cidadania aí dentro…aí você está longe de ser um loser.

Mas a neura é vasta e atuante. Todos os dias você vai esbarrar em quem faça você acreditar que sua porção loser existe. Tudo o que você não tem e não é será jogado na sua cara, não importa se serão reeboks, calças M.Officer, sapatos Loubotin, camisas Dudalina, carro do ano, iate, casa na praia, cargos de diretor, iphones, ipads, itudos… Se a pessoa que você encara no espelho todas as manhãs estiver ok com isso e rir das “exigências” dessa sociedade doentia e materialista, então você está indo na direção certa. You´re on the right track, baby!

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Todos somos coitados

Descobri que a coordenadora do colégio não só responde os e-mails como também resolve os problemas que aponto. Coitada dela.

Descobri que minha filha mais velha e suas amigas tiram sarro da minha preocupação excessiva com a saúde dela. Coitada de mim.

Descobri que meu marido faz um excelente macarrão com  molho ao sugo maravilhoso e que dá banho no bebê sem problemas. Coitado do marido.

Descobri que meu bebê ri quando minha filha do meio pula sem parar. Coitada da filha do meio.

Pelas fotos do Facebook, descobri que todas as turistas adoram abraçar os bonecos de cera de Johnny Depp e George Clooney. Coitados deles.

Lembrando das recentes reportagens na TV local, descobri que quase todo dia a coordenadora do Procon e o delegado de Homicídios dão entrevista no jornal do meio-dia. Coitados deles.