Amores adultos, surtos alucinados

Acabo de assistir ao filme O Lado Bom da Vida e estou sorrindo de alívio. Trata-se da história de Pat (Bradley Cooper), um homem que surtou ao ser traído pela esposa, deixou o casamento ruir e, por consequência, perdeu a casa e o trabalho. Morando na casa dos pais (Robert DeNiro e Jacki Weaver interpretando pais tão comuns como os nossos), Pat apresenta momentos de crise dignos de moças adolescentes. A sinopse diz que é bipolaridade, mas em mim essa não colou. É dor de amor mesmo.

Saí do cinema sorrindo porque descobri que não fui a única adulta no mundo a – depois de tomar um pé no traseiro – desmontar num precipício como uma jamanta que se atira no vazio depois de descer a serra sem freio e desgovernada. Como uma digníssima adolescente (dessas na faixa dos 30) eu, Juliette-Jamanta, perdi o freio durante um período de dois anos de serra abaixo e vibrei ao descobrir um filme que retrata sem preconceito, e com drama e humor, uma situação que todo mundo tem vergonha de assumir: aquelas neuras diárias que se tornam maluquices alucinadas e democratizam a loucura entre os mortais comuns.

O Pat passa o filme movido a uma energia maníaca e desconfortável e segue fixado na ideia de que vai refazer o relacionamento. Transtornado, só que quase sempre bem humorado, vai para uma clínica consciente de sua situação. Sai dela; frequenta a terapia; procura por fotos da ex para sabe-se lá o quê; como uma fita de vídeo (temos mais de 30 anos aqui), repassa na cabeça a todo instante o relacionamento. Quer entender o que houve e nunca acha a resposta. Surta quando ouve a música que considera a do casal (quem nunca?). Lê os trabalhos assinados pela ex na tentativa de manter um vínculo mental (ninguém vai levantar a mão?). Se no filme houvesse facebook (ou até o finado orkut), o roteiro estava perdido: Pat passaria o tempo perseguindo a ex-mulher online e postando fotos de felicidade fake torcendo para ela ver. Todas já fizemos isso, né não?

Sim, a loucura caótica provocada pelo amor perdido e não correspondido existe e é tão legítima quanto a loucura dos loucos de verdade. Que o digam minhas cabeçadas e cotoveladas na parede do corredor (sob o olhar misericordioso de minha mãe) ao descobrir que ele “tinha-uma-nova-namorada-mesmo-depois-de-dizer-que-precisava-se-encontrar-como-pessoa-sozinha”. Ou os trabalhos recolhidos e refeitos por amigas que se solidarizaram com meu coração despedaçado, né Joanne? Eu surtava quando ouvia um tal de sertanejo universitário (estilo que abomino), cujo refrão era “Chora, me liga” porque sabia que ele gostava disso. Lia a relia os textos de português ruim que ele escrevia. E chorava com toda aquela filosofia baratinha.

A loucura por amor adultescente passa por várias fases salpicadas de absurdos como situações inventadas para esbarrar no ex e até ações ilícitas na tentativa de incriminá-lo e vê-lo apodrecer na cadeia – coisa muito mais palatável do que sentir na língua aquele amargor da rejeição. Perdoar é divino, mas sabe como é…mandar para o inferno é mais legal. Situações que eu nunca assinaria se as contasse aqui nesses próximos posts… O que acontecerá.

O Lado Bom da Vida é um filme que ajudará adultescentes atormentadas a exorcizar probleminhas e a lembrar que toda loucura motivada por amor (ou o que parecia ser amor) um dia será superada e “autoperdoada”. O Lado Bom da Vida trata de um assunto sério e com grande carga emocional de uma forma leve e divertida. Sem ridicularizar esse problema que a gente sabe que tem. Trata de superar dores, mesmo que seja através do ato mais ridículo e insano das nossas vidas. Acabo de me lembrar da amiga que dirigiu 100 km com a mão quebrada e ficando azul rumo ao destino do ex para ter certeza de que não sentiria nada ao vê-lo pela última vez.

Silver Lining Playbook é o nome original do filme. Trata-se de uma expressão da língua inglesa que denomina o contorno iluminado das nuvens quando estas encobrem o sol. É usada em um ditado popular que diz “Every cloud has a Silver Lining” (Toda nuvem tem um “Silver Lining”), dando a ideia de que mesmo uma situação ruim pode trazer algo positivo. Tanto minha amiga da mão quebrada, quanto eu, Pat ou mesmo você da audiência, já estivemos tão presas nos pensamentos obsessivos pós-pé-no-traseiro que não percebemos que muitas vezes há coisa melhor à espreita. Eu percebi agora. Antes tarde do que nunca.

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